Nos últimos anos, o agronegócio nacional tem vivenciado um crescimento notável, consolidando-se como uma das maiores potências agrícolas globais. Contudo, para que esse setor continue se expandindo de forma eficaz e competitiva, a logística de transporte tem se mostrado cada vez mais crucial. Mudanças estruturais, impulsionadas por inovações tecnológicas e robustos investimentos em infraestrutura, estão moldando a operação das empresas agropecuárias e de suas transportadoras. Esse caminho de modernização, no entanto, não é isento de desafios que demandam soluções inovadoras e colaborativas. Para compreender melhor essa dinâmica, conversamos com Rodrigo Rosa, superintendente comercial da Edenred Frete, que compartilhou sua visão sobre os avanços e obstáculos enfrentados pelo setor.
A modernização da logística no setor agropecuário
O Brasil tem investido substancialmente em infraestrutura de transporte. Rodrigo Rosa destaca que esse processo de modernização tem sido um marco para o agronegócio:
“A transformação da infraestrutura de transporte, especialmente nas rodovias e ferrovias, é essencial para o escoamento eficiente da produção agropecuária. A frota de caminhões no país supera 2 milhões de unidades, evidenciando a magnitude do sistema brasileiro.”
Esses avanços são impulsionados pela crescente demanda por alimentos e pela necessidade de conectar os produtores a mercados cada vez mais distantes. Uma logística eficaz reduz desperdícios, melhora os prazos de entrega e diminui os custos operacionais. O uso de modais alternativos, como ferrovias e hidrovias, pode ser uma solução viável para baratear o transporte e tornar o escoamento da produção mais ágil.
A tecnologia tem desempenhado um papel de destaque nesse processo. A digitalização do setor consolidou-se como uma tendência crescente, com previsões de que o mercado de transporte digital crescerá 7,5% ao ano até 2026, segundo pesquisas da PwC e McKinsey. O uso de plataformas de rastreamento e otimização de rotas tem se tornado cada vez mais comum entre transportadoras e produtores, permitindo que os gestores monitorem trajetos em tempo real, reduzam custos e aumentem a eficiência. Para Rosa, a integração tecnológica é fundamental para o sucesso do mercado:
“As parcerias entre empresas de transporte e de tecnologia têm sido cruciais para reduzir custos e aumentar a competitividade do agronegócio. O futuro da logística está intimamente ligado à inovação digital.”
Desafios persistentes: infraestrutura e custos operacionais
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios logísticos significativos. A infraestrutura de transporte continua sendo um dos maiores entraves ao crescimento do setor. Com apenas 13% das rodovias pavimentadas, o custo logístico permanece elevado, impactando diretamente a competitividade das empresas. Rosa aponta que esse cenário cria um ambiente desafiador:
“As dificuldades de infraestrutura, somadas à elevada carga tributária e ao custo do diesel, tornam o transporte de cargas no Brasil um dos mais caros do mundo. Esses fatores impactam diretamente a operação das empresas e sua competitividade no mercado global.”
Além disso, a volatilidade econômica e a instabilidade política tornam ainda mais imprevisível o cumprimento de prazos de entrega, colocando as empresas em uma posição vulnerável. No entanto, o país continua sendo um dos maiores exportadores de produtos agropecuários – e a logística desempenha um papel essencial para manter essa posição no mercado internacional.
A inovação tecnológica e o futuro do TRC
A incorporação de ferramentas inovadoras tem transformado profundamente a logística de transporte no Brasil. Soluções como plataformas de gestão de transporte (TMS), rastreamento em tempo real e a Internet das Coisas (IoT) têm permitido que as empresas otimizem rotas e aprimorem a eficiência operacional. Em 2023, o crescimento de 9,2% nas soluções digitais para o setor logístico reflete essa tendência. Rodrigo Rosa explica:
“A digitalização do setor é um processo irreversível. As empresas que adotam essas tecnologias conseguem não apenas reduzir custos, mas também aumentar suas margens de lucro. A previsão é que a digitalização eleve a margem em até 15% até 2028.”
Além das soluções digitais, o uso de big data tornou-se um pilar importante na transformação da logística de transporte. A coleta e análise de grandes volumes de dados permitem prever demandas, ajustar rotas e melhorar os prazos de entrega. Tecnologias como rastreamento via GPS, telemetria, sistemas de gestão integrada (TMS) e análise de dados proporcionam melhor controle da frota, otimizam rotas e reduzem custos com combustível e manutenção. Além disso, aumentam a segurança das cargas e a eficiência nas entregas.
Logística e produtores rurais: uma parceria estratégica
Um dos principais fatores para o sucesso da logística no agronegócio nacional é a relação entre empresas de transporte e produtores rurais. Segundo Rosa:
“Existem estudos que indicam que uma colaboração sólida com os produtores pode reduzir os custos logísticos em até 18%. A confiança mútua possibilita uma previsão mais precisa da demanda, ajustes nos prazos de entrega e um controle mais eficaz do escoamento de produtos.”
Ele finaliza comentando que a colaboração estreita resulta em uma cadeia de suprimentos mais eficiente, capaz de atender à crescente demanda interna e externa.
Em um mercado altamente competitivo, como o de produtos agropecuários, a confiabilidade nas entregas é essencial para garantir a competitividade. Em 2024, o Brasil exportou R$ 445 bilhões em produtos agropecuários, consolidando-se como um dos maiores exportadores do mundo, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A confiabilidade nas entregas e o cumprimento de prazos são cruciais para que o país continue sendo um parceiro estratégico no comércio internacional.
Desafios no mercado externo
O transporte de produtos agrícolas para mercados internacionais representa um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas de logística no Brasil. Com o frete podendo representar até 40% do preço final, é essencial buscar estratégias de redução de custos. Além disso, a saturação dos portos brasileiros eleva os prazos de entrega. Entre os principais desafios estão a dependência excessiva do modal rodoviário, a falta de infraestrutura adequada (estradas, ferrovias e portos), a burocracia nos processos de exportação e as variações climáticas que impactam a malha viária.
Em 2023, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex-Brasil) registrou a exportação de 94 milhões de toneladas de soja, com China e Europa como principais destinos. Contudo, os custos logísticos aumentaram devido ao congestionamento portuário e à alta demanda por transporte marítimo. O superintendente da Edenred Frete acredita que a modernização da infraestrutura portuária e a adoção de tecnologias de monitoramento de carga são fundamentais para manter a liderança brasileira no comércio agrícola:
“A modernização dos portos e a implementação de tecnologias de monitoramento de carga são essenciais para reduzir o tempo de trânsito e minimizar perdas durante o transporte.”
Vale destacar que a conexão entre transporte marítimo e rodoviário é crítica, pois gargalos nos portos afetam diretamente os motoristas nas estradas e os prazos de entrega.
O futuro da logística no agronegócio nacional
A logística de transporte no agronegócio brasileiro tem se tornado cada vez mais sofisticada, impulsionada por inovações tecnológicas e investimentos em infraestrutura. Embora o Brasil tenha avançado significativamente, ainda existem desafios a serem superados. No entanto, a colaboração entre empresas de transporte, produtores rurais e o uso inteligente da tecnologia são as chaves para garantir a competitividade e o crescimento do setor. Rodrigo Rosa conclui:
“O futuro da logística no Brasil passa pela integração de tecnologia, infraestrutura de qualidade e, principalmente, pela construção de parcerias estratégicas. Aqueles que investirem nesses aspectos terão a oportunidade de se destacar tanto no mercado nacional quanto no global.”